domingo, 31 de janeiro de 2010

Parte II: Em São Paulo

Depois de alguns dias de caronas e aventuras, Jorge e Wagner, meninos ainda, chegaram a grande capital, por um momento se perderam naquela imensidão de gente correndo pra todo o lado na estação da Sé.Era incrível ... aquele trem, aqueles prédios, aquela quantidade de pessoas.Se assustaram, principalmente Wagner medroso que era.Mas ao se encontrarem novamente, voltaram a sorrir.Saíram desesperados e saltitantes em busca de algo que não sabiam bem o que era.
Algumas noites nas calçadas sujas de São Paulo procuravam o monumento da foto do postal que Antonio enviará a alguns meses atrás. Não sabiam se haviam achado o monumento, mas meio a tantas barracas e bugigangas, , aquele rosto iluminava a multidão: era Antônio, vendendo algumas delas também.
O encontro entre os três irmãos foi fervoroso. Abraçaram-se forte e conversaram um pouco.
Antônio estava numa pensão ali por perto, levou Jorge e Wagner e os três dividiam o quarto.

Naquela manhã, Jorge acordou assustado e suando. Olhou ao redor e seu irmão Wagner dormia um sono profundo e satisfeito, não quis interromper. Mas algo estranho estava acontecendo. Antônio já não estava mais no quarto.
__ Abre a porta muleque! Era Dona Judite, a dona da pensão. __ A polícia quer entrar ai!
__Acorda Wagner, acorda.
O quarto foi revistado e destruído pelos PMs.Os meninos foram levados as pressas para a delegacia.Antônio havia morrido naquela madrugada com uma troca de tiros com a polícia.Se não morresse, seria preso por porte ilegal de arma e contrabando.
Os meninos foram encaminhados para o juizado de menores, e sem sucesso, tentavam contato com a família dos meninos.
Não ficaram muito tempo, a rua era mais atraente que aquele lugar.E foi nas ruas que passaram longos anos de suas vidas.

Estavam diariamente dopados de cola ou pedra. Lhes tirava o sono, a fome e o frio.Se dormissem a noite, eram alvo de violência gratuita de jovens da região.
Numa noite dessas de confusão, a última coisa que Wagner viu fora os olhos negros e aflitos de Jorge.Estava com medo, aflito e confuso.Foi a última vez que estiveram juntos.Jorge tinha apenas 15 anos e já carregava consigo muitas dores.Em quinze anos de vida, perderá a mãe pra um desconhecido, o pai para o álcool, um irmão para a PM e agora outro irmão sabe-se lá para o que.

A cola de sapateiro se tornará infantil demais. O que divertia Jorge e o deixava se sentindo o super-homem eram seus dias de pó e pedra. Brigas com os traficantes eram constantes. Mas Jorge já havia se agregado a um bando de meninos que estavam na mesma vida que ele, alguns mais velhos, alguns mais novos. Para ter seus entorpecentes garantidos, fazia uns trampos para um dos donos de uma boca. Quando vacilava, eles não perdoavam, abusavam e espancavam Jorge. Ele era só mais um muleque perdido e sem proteção.
Foi levado diversas vezes para a então FEBEM, abrigos e juizados. Mas sempre arrumava um jeito de fugir.

domingo, 24 de janeiro de 2010

A história do Jorge - Primeira parte

"Me larga, me larga, me solta seu filho da puta.Filho da puta, filho da puta, filho da puta.Me solta, eu sou especial."
Era meia noite, e esses gritos vinham da rua.Gritos de desespero.O que seria ser especial?
Os seguranças todos do hospital estavam em volta dele, as árvores impediam que eu enxergasse com clareza o que acontecia ali.Mas era certo que o maltratavam e que não estavam com paciência.Diziam que o homem estava bêbado.E cada vez mais ele gritava, de onde tirava forças?

Jorge era seu nome.Nascido numa cidadizinha do Ceará, Tinguá.Vinte mil habitantes, um calor terrivel.A principal atividade da cidade era hortfruit, como costumavam chamar e a criação de galinhas.
Jorge era o segundo filho mais novo, depois dele o caçula era Wagner.Seu irmão mais velho se chamava Antõnio, eram em oito.
Seu pai, Josemar, criava algumas galinhas velhas e cansadas no fundo do quintal, e vendia os poucos ovos que elas davam.Sua mãe, Ana, era lavadeira profissional.Era uma das poucas na cidade que tinha um tanquinho.Lavava roupas de alguns hotéis da cidade.Não entendia o motivo, mas em época de verão, sempre tinha gente nos hotéis, principalmente aqueles gringos ricos.
Ana era uma mulher atraente, e naquela cidade pequena, eram poucas.Casou-se ainda bem jovem, teve Antônio com 13 anos de idade.Nunca amou seu marido Josemar, mas não podia desonrar seu pai entrando nessa modernidade de separação.
Durante esses anos todos de casamento, teve alguns casos escondidos, mas o mais recente fora uma paixão avassaladora.Joaquim era um homem dos negócios como costumavam dizer, morava em Fortaleza e ia para Tinguá uma vez por mês para fazer negócios com as hortfruit.No dia em que Joaquim viu Ana, foi tão avassalador quanto o dia em que ela se entregava em ardência á ele.
Alguns meses depois, não surpotavam mais a distância, e Joaquim propôs que Ana fugisse com ele.
Jorge tinha 13 anos.Ajudava seu pai alimentando as galinhas e nos finais de semana era guia turístico na cidade, conhecia o pessoal dos hotéis por causa de sua mãe, era uma troca constante.
Depois do sumiço de sua mãe, seu pai que já gostava de umas biritinhas, se entregou de vez á bebida.Seus irmãos mais velhos se viravam como podiam com uns bicos para colocar comida na mesa, mas um dia seu irmão mais velho, Antônio, foi embora para São Paulo, só souberam de seu paradeiro quando lhes enviou um postal do Viaduto do Chá, dizendo que estava bem e que era ambulante por ali mesmo, próximo a imagem do postal.
Seu pai estava cada dia pior, eles já não tinham muito o que comer, e Jorge também pouco dormia por causa dos gritos de pai embriagado.
Aquela noite Jorge foi o escolhido para os espancamentos de pai, gritava, se debatia, mas de nada adiantava, o homem continuava raivoso, por algo que aqueles meninos não tinham culpa alguma.
Nesta madrugada, antes de o sol nascer, Jorge acordou Wagner as pressas, com duas mochilas cheias de trapos dos dois, e alguns trocados das economias de suas gorjetas que os gringos deixavam, e os dois irmãos foram em busca da liberdade, para a capital da liberdade e do emprego.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Me negue se assim preferir, mas não me ignore...


Ela estava lá com ela mesma, e era tudo tão bom, tão calmo.Primeiro a ansiedade, sabia que esse momento precisava acontecer mas tinha medo que não conseguiria, depois veio a euforia, toda felicidade, emoção e sensibilidade que um corpo poderia receber.

Depois veio a calma, e essa calma não trouxe, mesmo sabendo que não conseguiria o que queria, mas depois, o nascer do Sol e o se pôr da Lua a levaram onde ela queria chegar, talvez não extamente, mas bem próxima transcendeu, levantou, levitou, foi embora.Ainda tinham pessoas e barulhos, mas aquela luz , aquela energia boa de um Sol quentinho, dando bom dia e recebendo de braços abertos o mundo...