segunda-feira, 22 de março de 2010

A prisão

Um quarto velho, alguns resquícios do pó e uns copos com gelo e resto de whisky sobre a mesa.
__ Vai Zoinho, trouxemos a missão pra você!
Os gelos se debatiam dentro do copo com os tapas na mesa, e os gritos, a risada alta se perdia meio ao volume do som que saía da vitrola velha.
__Vai Zoinho, arranca a roupa dela truta. Arregaça!
Quase chorando, Jorge, que naquele momento era Zoinho, como era chamado em seu meio, mandou uma carreira grande e fez o que queriam.Davam risadas altas e se satisfaziam consigo mesmo enquanto assistiam a cena e filmavam com o celular recém roubado da jovem.
A garota tinha a mesma idade de Jorge, e um futuro determinado, cheio de traumas e sofrimentos como ele.
Na mesma semana, seus “camaradas” fugiram, e Zóinho, que completara 16 anos, fora preso novamente. Mas dessa vez o crime era diferente, e a relação na FEBEM era outra.
Garotos da mesma idade e alguns um pouco mais velhos espancavam diariamente Zóinho. As regras eram iguais as da cadeia.Aquele lugar parecia uma cadeia de verdade.Dessa vez não teve como fugir, completou 18 anos e foi transferido para a penitenciária de gente grande.
A essas alturas, sua ficha já estava bem suja.Continuava sem proteção La dentro, e seus dias eram cada vez piores.
Jorge já nem se lembrava mais que este era seu nome.Não se reconhecia com aquela barba no espelho, não sabia mais quem era.Já não dormia mais, e uso das drogas, lícitas e ilícitas, era cada vez maior.

Naquela noite, a cadeia estava em fartura; sempre tinha um o outro que conhecia sua trajetória, eram conhecidos de seu falecido irmão, e se não podiam protegê-lo, o ajudavam com as drogas.
Esta noite foi o fim, o fim de uma segunda vida, que iniciara ao chegar em São Paulo.
Tudo girava, tudo escureceu, os sons dos gritos dos presos atordoados ficavam cada vez mais distantes.Jorge acordou deitado numa cama mais confortável do que a que costumava dormir na cela, não sabia onde estava.Nem imaginava o que teria passado na noite anterior.Uma overdose.
Depois daquela noite, Jorge nunca mais fora o mesmo. Intensificou seu tratamento com tarjas pretas, mas o uso das outras drogas não teve redução.
Suas alucinações aumentavam a cada dia.Parecia que nunca mais ficou são, parecia que estava sempre chapado de alguma droga, seja qual fosse ela.