segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Momentos I

Ela sentou do meu lado, encostou a cabeça no meu ombro e começou a chorar.Eu não conseguia entender que sofrimento era aquele, que raio de amor era aquele que Nanda dizia sentir por Juan, eu não conseguia entender, ninguém conseguia, muito menos Juan, só ela mesmo.
O telefone tocou, era André.Preocupado ... ela ficou feliz e surpresa com a ligação, mas já tinha decidido que não se prestaria a isso.Devia ser bom trepar com ele, ele era um gostoso e muito gente boa, a conversa rendia com ele.Ela não falava muito sobre o assunto, mas eu sabia que amava também o Léo, o Gustavo, a Natasha, enfim.Estava até imaginando um romance com Léo, por mais que não fosse apaixonada por ele.Mas não tinha jeito, Juan estava sempre presente em seus pensamentos.
Ela dizia que fazia de tudo para esquecê-lo, mas acho que ainda não havia chegado nesse momento, faltava um pouco para chegar lá.
__ Sabe, até eu tento entender o que realmente sinto.Todos falam pra eu esquecer, mas ninguém sabe quão grande é minha dor, não sei se escolhi isso, sei que não gosto nem um pouco de conviver com essa dor.Eu não poderia sentir isso por outro?O Léo por exemplo.Tudo bem, eu amo ele também, mas é diferente, eu não desejo ele ao meu lado além do que já é.
Aqueles dias estavam estranhos.Todas as energias negativas caiam sobre cada um.
Havia um apagão na cidade, igual a 9 anos atrás, um blackout por todo o Estado.
Nanda estava com medo também, pela primeira vez sentia medo de verdade.Todos estavam, Natasha também estava assustada, suas experiências terrestres e espirituais estavam sendo das mais estranhas e enriquecedoras talvez.
Algumas desgraças, algumas evoluções. Aquele grupo era especial.Eu queria ver o Marcelo, o Gu era bom também ver nesses momentos, ele trazia paz, mas estava numa fase difícil, sobrecarregado de trabalho e agora da falta dele.Mas Marcelo devia saber o que estava acontecendo .Segundo informações que tenho, Nanda, Marcelo e Natasha eram ainda mais especiais em relação a sua missão na Terra.

Aquele silêncio ... Nanda não sentia vontade nem de chorar mais,depois me disse que tudo passaria, que era assim mesmo, ia e voltava, e estava tão assustada e pensativa sobre essas coisas, com esse mundo, que dizia ser perca de tempo chorar por um amor platônico.
Apenas a luz da vela iluminava seu lindo rosto, e a fumaça do cigarro se espalhava. Tinha um semblante doce e assustado ao mesmo tempo, falei que iria embora, mas fiquei ali fazendo cafuné até ela dormir.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Cotidiano II

Cinco e cinqüenta. Puta merda perdi a hora de novo.
Aquele lugar fedia mijo, mas as histórias de Cauby faziam companhia a Nanda naquelas manhãs nos trens sujos de São Paulo.

Clarinha era forte, não chorava muito. Nanda talvez fingisse mais, pois nunca havia chorado com as amigas, mas chorava quase todos os dias sozinha, escondida.Natasha era escrachada, chorava a qualquer momento que quisesse, aliás, era assim com tudo, para chorar, para beijar, para fumar um, para trepar.

Sua tristeza é mais orgulho do que dor, era auto suficiente demais para sofrer por isso, sabia que não precisava disso.

Aquela noite foi estranha, aquele dia tinha sido estranho.Queria que acabasse logo, não estava segura.Nanda quase dormiu, mas não o fez porque sabia que ele estava lá.Mas quem estava de verdade era Gustavo, dando o melhor prazer que uma mulher pode ter.Não via a hora de ficar consigo mesma e se enfiar no chuveiro e continuar pensando em Gustavo.Por dentro estava quente mas sentia frio, e sua pele ardia de calor, as sensações eram alheias a qualquer um que quisesse conversar ou se aproximar, já havia começado há algumas horas seu momento introspecção.Dava gosto de ver o rostinho de felicidade de Nanda quando podia se encontrar consigo mesma, apenas ela e a fumaça de seus cigarros.Lembrava-se da frase que ouvira naquela noite e sorria: “ a maconha não personifica, mas intensifica”, adorava essa frase, pois podia senti-la, todos seus sentidos estavam intensificados naquele momento, como de costume, inclusive seus sentimentos de impaciência.
Aquele tênis não combinava com o meu all star sujo. Bom, os sapatos do Gustavo também não, mas isso não importava, afinal eles não combinavam com as roupas dele também, e isso combinava mais com Nanda.Eles combinavam mesmo era na cama.O tênis que combinava com seu all star e com a decoração do apartamento era o de Juan.
Se perguntava porque pensava tanto no Gustavo ultimamente, ele era somente o Gu, nada demais.Talvez tivesse algo demais sim que se revelava em alguns momentos.Seu sorriso empolgado, seus gemidos e longos beijos fortes e fugazes, estampavam a dor que sentia quando estava com Juan, nunca mais estivera com ele.Juan era o mais distante porém o mais próximo.


Mais do que o tênis de Juan, o que ficaria perfeito ao lado daquele all star, no cenário do meu apartamento, era os de Rodrigo.Hoje estava espetacular.Nunca tinha reparado como seu braço era branquinho, grande, era um conjunto harmonioso, perfeito demais e distante demais.Era meio gordinho e chegava a ter um seio avantajado, o que não me atraia nem um pouco, mas nele, passava imune este detalhe.
Que vontade de apertar esse braço, abraçar essa cintura que devem dar três da minha, de grudar esse corpo no meu até sentir no meio um volume discreto de um principio de ereção.


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Cotidiano - I

19 de outubro de 2009
Estava tudo confuso naquela segunda-feira, tudo irritava Nanda a ponto de dar esporros, mas era comum. Era incrível como seu humor mudava.Naquela manhã tudo ao seu redor a irritava, aquela chave barulhenta no fumódromo, aquelas caras pálidas, apenas as flores roxas e vermelhas da primavera estranha não a incomodava, mas hoje elas não estavam tão bonitas, o sol não estava presente para iluminá-las.
Na noite anterior, forçara um choro e mal sabia o porquê, todo aquele sentimento estava morrendo e ela nem percebia o quanto, não via que sua dor já não era tão grande, na verdade, o que estava morrendo era a esperança, esta que dizia naquele livro pelo chinês que era o pior dos venenos, o veneno não a matou, mas talvez tivesse matando o próprio sentimento que alimentava.
Aquele enjôo que já perdurava mais de uma semana. Era só chegar lá, todos os dias de manhã que a sua situação estomacal já começava com força. Aquelas pessoas davam vontade de vomitar, e nada poderia fazer.
Serravalle, aquela música era muito depressiva. Nanda gostava de músicas depressivas, mais do que das alegres, tinha um namorado que dizia que odiava musicas alegres, foi muito influenciada por ele em algumas coisas. Tudo que pensava era em sua cama, sozinha mesmo dormindo, mas a companhia de Gustavo naquele final de tarde não seria nada mal. Como era bom trepar com ele ...
A vertigem sempre vinha acompanhar os enjôos, seguido de tontura e tormenta, era a pressão ... a pressão baixa, talvez causada pela pressão da vida.
Aquele toc toc de salto no chão davam mais enjôo ainda, era provido de raiva eu acho.Aquela japonesa com aqueles pêlos gigantes no braço, era de embrulhar qualquer estômago.Era a pessoa que mais conseguia tirar Nanda do sério, não tinha a menor paciência com aquela velha psicopata.Ela achava que entendia de tudo, tudo que outros faziam estava errado, ficava pra cima e pra baixo com a câmera na mão e o gravador nos bolsos “pegando as coisas erradas” : Eu preciso da minha caneta vermelha, tá tudo errado.Vou ter que passar caneta vermelha, ela dizia com aquele ar de inconformidade, como se tivesse descoberto alguma coisa que ninguém soubesse.E ganhava muito bem para fazer “tudo” isso.Era odiada por todos.Apesar de tirar Nanda do sério, ela não tinha sentimentos de raiva por ela, aliás, não tinha esses sentimentos por ninguém eu acho, nunca que tivesse demonstrado pelo menos.
O enjôo já havia passado, mas logo voltaria, ainda teriam algumas horas para ir embora.Estava ansiosa.Queria ver Clarinha e Natasha.Como aquelas meninas choravam, todas, Nanda também e haviam mais amigas choronas, fazia tempo que não via Letícia chorando ... mas podia sentir sua dor, mas as que mais sentia, além da sua, era quando abraçava Carol ,Natasha também, mas a Carol devia sofrer muito. Confiavam em Nanda.
- Você não gosta de Nanda?
- Não.Prefiro Fê, mas minha mãe me chama assim desde pequena ...
- Então vou te chamar de Fê, disse Clarinha sorridente. Pensei: sempre falam isso, mas Nanda já é automático, mas respondi com um sorriso de canto: Ta bom.

5 semanas se passaram, e tudo era igualzinho.
Mas dessa vez Leticia chorou, Natasha chorou, Nanda chorou, por que tanto choravam aquelas mulheres?
Lindas e choronas, era o que eram.

Carnaval - Alguns meses depois

As lembranças já estavam sumindo aos poucos, dos detalhes ela já não se lembrava mais.
E aquele amor ardente, angustiante,dependente, já não tinha mais tanta força.E sabia que não poderia ser assim, o tempo acabaria por trazer um fim trágico.
Então precisava elimina-lo, mas sabia que essa seria a última das opções, talvez depois de muitas verdadeiras histórias e suas trajédias, mas não era essa a hora.
E então esse amor que já estava com algumas feridas quase fechadas, se abria para se transformar num amor maduro, conformado e tranquilo.Mas aquelas palavras, aquela flor ... era virtual, mas podia fechar os olhos e sentir tudo aquilo.
Sozinha, em prantos desesperados e soluços, ela pode sentir o abraço demorado.
Ele tinha desespero para sonhar, para dormir e acordar no seu mundo.Ela entendia que ele não precisava se desesperar e criar problemas porque não era compreendido, ela também não era, e conhecia algumas pessoas que também não eram.Bastava compreender que não precisava ser compreendido.Então ela tinha desespero por ele, por abraça-lo, beija-lo e deixa-lo sonhar.
Queria dar felicidade a ele, mesmo acreditanto sempre que a felicidade esta dentro de si, e nunca no outro.
Como o amor é contraditório não ...
Quem não ama não entende, e diz que aquele que ama é confuso, é louco.
Ela sabia que era cedo para dizer que amava demais, mas sabia que amava de verdade, e este amor já estava entrando num segundo estágio, e isso a assustava e a desesperava mais e mais.