segunda-feira, 12 de abril de 2010

Zé ninguém

Seus anos na prisão foram longos, só esse período já daria um livro.
Chegou o dia!O dia que todos os presos sonhavam (exceto Jorge) – o dia da liberdade.
Ao sair pelo portão, Zóinho não tinha ninguém para recebê-lo, nem sabia para onde iria, muito menos quem era.Era como se tivesse acabado de nascer.Nascera com barba e uma longa e pesada história de vida para contar.
Não era mais Jorge há muito tempo, e agora que tinha saído da prisão, também não era mais Zóinho, era o Zé!Zé ninguém!
Voltou a pensão da Dona Judite, era o único lugar seguro que sua mente conseguia lembrar.Mas Judite não foi tão hospitaleira como imaginava que seria.Ele não tinha como pagar, e ele e seus irmãos já haviam deixado uma divida há anos atrás.
Perambulou algumas horas pela rua e a noite foi para um albergue.Não pregou os olhos a noite toda, velhos bêbados gritavam e discutiam, e cão de guarda latia alto e suas lembranças vinham todas as noites.Agora sem as drogas, nem as licitas, nem as ilícitas, o tormento era maior.Zé tinha medo de sair na rua, tinha medo de dormir, tinha medo de viver.
Numa de suas andanças a procura de uma esperança para sua vida, encontrou um dos “camaradas” que lhe vendia pó e pedra na sua adolescência.Macaco era como o conheciam.
Trocaram algumas palavras, e era tudo o que se lembrava daquela noite.
Os olhos pareciam estar grudados, fez muita força para abri-los, tudo girava e era tudo branco, tudo muito claro, em lugar estranho.Olhou ao redor, e ela dormia ali no sofá.Tinha um sono tranqüilo.Quem seria aquela mulher?
Com um sorriso, Ana despertou.Jorge não conseguia pronunciar uma palavra, pensava milhões de coisas, mas os remédios tinham o dopado tanto, que apenas saliva saia de sua boca.Ana segurou em suas mãos e contou sobre a alucinação que ele tivera depois de umas carreirinhas e outras coisas mais.
Ana era uma assistente social que conhecia Jorge de longa data.Ao perceber que ele não a reconhecia, se entristeceu ao perceber o que estava acontecendo com ele.Uma vida praticamente apagada pelos entorpecentes em doses excessivas.
Começava ali mais uma página em branco.Só se lembrava que era Jorge, nem Zóinho nem Zé, era Jorge.

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